Os fonoaudiólogos atuam na saúde para que os pacientes conquistem sua independência através da Reabilitação Pós UTI com foco na voz, audição, motricidade, deglutição, leitura e escrita. Neste Dia do Fonoaudiólogo, entrevistamos Jéssica Moura, que atua na Unidade Salvador da Clínica Florence desde 2021.
Graduada em Fonoaudiologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), pós-graduada na área de Saúde do Adulto pelo Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde – Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (HUPES / UFBA) e em Afasias e Demências pela Faculdade Inspirar, Jéssica explicou a importância da sua área para os pacientes Pós UTI.
1- Como parte do Time Interdisciplinar, qual é o papel do Fonoaudiólogo na recuperação dos pacientes Pós UTI?
O plano terapêutico fonoaudiológico para o paciente crítico Pós UTI irá contemplar duas grandes frentes de trabalho: Deglutição e Comunicação. Por isso, como parte do Time Interdisciplinar, compreendo que a fonoaudiologia é a travessia do cuidado que oferta vez e voz ao indivíduo.
É comum que o paciente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) se depare com dispositivos (intubação orotraqueal, traqueostomia, sonda nasoenteral e/ou gastrostomia) que causam ruptura na sua funcionalidade e qualidade de vida, além de ser um ponto bastante sensível para seus familiares e cuidadores. Diante destes aspectos, o fonoaudiólogo contribuirá na reintrodução da dieta oral de forma segura, eficiente e prazerosa. Também tem como foco proporcionar acesso às possibilidades de expressão e compreensão da comunicação, visando garantir a sustentação de uma voz que pode ser escutada, mesmo na ausência da oralidade.
2- Após uma longa passagem pela UTI, o indivíduo pode apresentar perdas de habilidades na comunicação e na deglutição. De que forma o Fonoaudiólogo desenvolve e executa o plano de cuidados para melhorar ou reverter este quadro?
Nos casos de disfunções na biomecânica da deglutição, o fonoaudiólogo procederá com sessões de fonoterapia que otimizem a frequência da deglutição salivar, o manejo de secreções, a habilidade para manipular o bolo alimentar em cavidade oral e reduzir o risco de broncoaspiração. Durante o programa de Reabilitação Pós UTI, o acompanhamento deste profissional também objetiva potencializar o input sensorial e a resposta motora dos órgãos fonoarticulatórios a partir de estímulos orais que considerem as vivências representativas e preferências alimentares dos pacientes.
No cenário da terapia intensiva, nem sempre é possível a expressão da comunicação oral. Muitos pacientes estão em situações de vulnerabilidade comunicativa, impossibilitando a participação ativa no seu processo de saúde-doença. Desta forma, o profissional pode lançar mão de estratégias que contemplem a comunicação suplementar e/ou alternativa para materializar os desejos, vontades, valores e capacidade de expressão do paciente.
3- Quais os principais benefícios das sessões de Fonoaudiologia para pessoas que tiveram lesões neurológicas e necessitaram de intubação/traqueostomia?
Os pacientes podem se beneficiar, nas sessões Pós UTI, com melhorias no funcionamento linguístico (afasia), disfunção do planejamento motor da fala (apraxia), alteração das bases motoras da fala (disartria), distúrbios oromiofuncionais e/ou alterações da qualidade vocal (disfonia) trazendo repercussões na funcionalidade e na qualidade de vida. A partir de um plano terapêutico individualizado, o Fonoaudiólogo irá manejar o caso clínico com provas terapêuticas de deglutição, prescrever exercícios conforme os dados da avaliação e poderá lançar mão de tecnologias adicionais, a exemplo da bandagem elástica, eletroestimulação e laser que de forma coadjuvante, podem potencializar as funções orofaciais.
No contexto da traqueostomia, segundo cada caso, é possível avaliar adaptação de válvula de fala e deglutição para restabelecer o fluxo para via aérea superior, estimulando os músculos que ajudam função de deglutição, além de alcançar comunicação oral, possibilidade de expressão vocal e melhor interação com equipe assistente e família.
4- Como você avalia sua experiência na Clínica Florence, sendo uma Unidade de Transição de Cuidados?
É preciso saber lidar com o sofrimento de pacientes e famílias que foram expostos às rupturas na sua história depois do adoecimento. Estas pessoas costumam enfrentar a angústia e os desafios do não acesso à alimentação oral, da impossibilidade de beber água, da dificuldade no prazer alimentar e da limitação na percepção do sabor e cheiro dos alimentos. Além disso, comumente, não conseguem se comunicar de forma efetiva, não podem escutar a própria voz pela presença de algum dispositivo, ou até mesmo, apresentam grave alteração na compreensão do que está sendo dito.
Portanto, na minha visão, poder viver a experiência de ser fonoaudióloga em um Hospital de Transição me conecta com a possibilidade de ser o elo nas histórias de cada sujeito, buscando, a partir disso, o que faz sentir e faz sentido na construção de um trabalho intensivo que contempla as especificidades dos pacientes e as práticas humanizadas. São muitos os casos que atendemos na Clínica Florence e em todos estamos imbuídos pelo desejo do cuidar: na presença à beira leito, no exercício do acolhimento e na entrega de resultados vinculados ao retorno da funcionalidade e melhora da qualidade de vida.