Antes mesmo da alta hospitalar, a família de um paciente que passou por um longo período de internação precisa se conscientizar de que ela faz parte do tratamento. Isso já começa ao longo da internação, acompanhando o plano terapêutico e os cuidados diários, quando deve ocorrer a capacitação de familiares e/ou cuidadores com o intuito de propiciar uma transição para o domicílio sem ruptura.
A parceria com a família é importante também para a realização da avaliação do domicílio e acessibilidade, quando são passadas orientações e é recomendado o planejamento antecipado de possíveis mudanças necessárias na casa para receber de volta aquele paciente após a alta hospitalar. A construção destas orientações é individual e personalizada, mas algumas dicas são comuns em casos de pacientes com comprometimento da independência e autonomia para atividades básicas da vida diária.
Adaptações no domicílio no Pós Alta
Em linhas gerais, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais recomendam que se opte por cômodos com boa iluminação natural e ventilados. No quarto, o interruptor de luz ou abajur deve estar próximo à cama, de forma a permitir a mobilidade segura durante a noite. A altura da cama também é muito importante. A preferência é por camas em que o paciente possa colocar os pés ao chão, quando for se sentar para se levantar. Importante estar atento para deixar os objetos mais usados ao alcance das mãos, em um móvel ao lado da cama, por exemplo. Não esquecer de manter no quarto apenas o essencial, liberando espaços para favorecer a mobilidade em caso de intercorrência.
No banheiro, vasos sanitários muito baixos dificultam o sentar e levantar. A altura ideal é a que permite uma flexão de 90° do quadril. Assento fixo e barras de apoio nas laterais do assento ajudam e dão segurança. Recomenda-se, ainda, a implementação de barras de apoio também em locais próximos da pia e chuveiro, para oferecer segurança e auxílio nas atividades. Em muitos casos, sugere-se a retirada do box, assim como do filete preso ao piso: é mais seguro e gera acessibilidade para a cadeira de banho.
O uso de tapetes, fios, objetos e/ou vasos de plantas em locais de circulação deve ser evitado, além de objetos colocados em locais de passagem, pois aumentam o risco de queda. A utilização de pisos antiderrapantes é bem indicada, bem como de escadas com corrimão. É ideal o uso de fitas antiderrapantes nos degraus, inclusive para demarcar claramente o início e o fim das escadas. Em caso de mais de um vão de escada, optar por ter um assento fixo entre eles para o paciente descansar.
Tudo isso, além do amor e atenção, pode fazer com que o paciente tenha uma recuperação mais rápida no pós alta e uma melhor qualidade de vida.
(Artigo publicado no Jornal A Tarde em 6 de dezembro de 2022).
Flaviane Ribeiro é fisioterapeuta, coordenadora de reabilitação da Clínica Florence, mestre em Ciências pela UFRJ e doutora em Processos Interativos dos Órgãos e Sistemas pela UFBA.