Capacitação familiar auxilia nos cuidados Pós AVC
Cuidador tem papel fundamental no processo de reabilitação do paciente Pós AVC.
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo, impactando diretamente na vida de pacientes e seus familiares. De acordo com a Sociedade Brasileira de AVC, a doença afeta o indivíduo de diversas maneiras. Sequelas como fraqueza, rigidez muscular, dificuldade de locomoção, problemas na fala, na memória, alterações emocionais e na sensibilidade são algumas das listadas após o evento agudo.
Embora o tratamento imediato do AVC seja crucial para minimizar o dano cerebral, a recuperação a longo prazo também é essencial para que o sobrevivente possa voltar a ter uma vida independente e produtiva.
A jornada do paciente Pós AVC pode ser um processo longo e desafiador. Por isso, a família desempenha papel importante. Geralmente, são eles que irão oferecer suporte emocional, prático e financeiro durante todo o processo de recuperação e envolvê-la no cuidado é fundamental.
“Abranger a família no cuidado ao paciente ajuda no engajamento, leva mais segurança e também auxilia no entendimento de como lidar com a nova realidade. São eles que estarão com aquele paciente no dia a dia e a forma como os familiares enfrentam esse período pode auxiliar ou dificultar o processo de reabilitação”, ressaltou Dra. Michele Bautista (CRM-PE 19645), Gerente Médica da Clínica Florence, Unidade Recife.
No entanto, muitos familiares se sentem despreparados para lidar com os desafios que surgem com as sequelas da patologia, que pode trazer alterações físicas e cognitivas, que irão exigir novas demandas de cuidado. É nesse momento que a capacitação familiar entra em cena, auxiliando no sucesso da reabilitação e da qualidade de vida do paciente.
Um dos aspectos mais importantes da capacitação familiar no Pós AVC é a compreensão das necessidades específicas do paciente. Isso inclui aprender sobre as limitações físicas e cognitivas, como dificuldades de mobilidade, fala e memória. Ao entender essas necessidades, a família pode adaptar o ambiente doméstico para torná-lo mais seguro e acessível, reduzindo o risco de quedas e outros acidentes.
A reabilitação Pós AVC envolve uma série de terapias, como fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Quando a família está capacitada, ela pode contribuir significativamente para esse processo, ajudando o paciente a realizar exercícios em casa e a seguir as recomendações dos profissionais de saúde.
“É importante que o familiar saiba como realizar uma transferência, troca de fralda, como realizar a instalação de uma dieta para o paciente que precise de uma via alternativa que não seja a via oral, como realizar uma troca de curativo, caso não seja dedicada uma equipe de enfermagem. Além de auxiliar na realização de exercícios de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia após a alta hospitalar”, completou Dra. Michele.
Na Clínica Florence a capacitação faz parte do programa de assistência à família, que elege o responsável pelos cuidados ao paciente. Essa pessoa recebe orientação do Time Florence e, ao final do processo, o respectivo cuidador ainda recebe um certificado atestando que foi treinado.
As capacitações são realizadas de acordo com a necessidade de cada indivíduo e dentro do contexto de transição, buscando sempre assistência contínua e eficaz no manejo do domicílio.
Segundo Renata Almeida, coordenadora de fisioterapia da Clínica Florence, Unidade Recife, pacientes Pós AVC apresentam frequentemente quadros de hemiparesia (paralisia parcial de um lado do corpo) e/ou hemiplegia (paralisia total que atinge um lado do corpo), além de heminegligência (distúrbio neurológico que afeta a percepção do espaço e do corpo de uma pessoa) do lado afetado. E os familiares precisam aprender a lidar com essas novas demandas de cuidado.
“Precisamos capacitar familiares para realização de transferências de cama/cadeira, capacitações de posicionamento no leito e quando o paciente faz uso de via aérea artificial. Além disso, também capacitamos os familiares sobre limpeza de endocânula e, por vezes, aspiração traqueal”, comentou.
A fisioterapeuta destacou que as capacitações são iniciadas 15 dias após a admissão do paciente, complementando que elas possibilitam uma assistência individualizada, contínua e que ajudam a melhorar os desfechos em domicílio.
Tripé da Reabilitação
A reabilitação funcional aumenta as chances de recuperação, minimiza a extensão de sequelas e melhora a qualidade de vida dos pacientes. É fundamental que a reabilitação de uma pessoa que sofreu um AVC considere o tripé precoce, intensiva e interdisciplinar.
Estudos apontam que 95% dos ganhos de recuperação do paciente são observados nos primeiros três meses após o evento. Para pacientes que tiveram perda da independência para as atividades básicas de vida diária, como comer ou tomar banho, é recomendado iniciar a reabilitação intensiva entre 4 e 7 dias após o evento.
Segundo a Canadian Stroke e a American Stroke Association, pacientes que tiveram AVC com maior impacto em funcionalidade devem ter acesso a cuidados de reabilitação interdisciplinar, organizados e coordenados, preferencialmente em unidades de reabilitação internado. Essa recomendação é baseada nos maiores níveis de evidência (1A).
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