Envelhecer é um processo natural e o aumento da expectativa de vida traz um alerta sobre as dificuldades da terceira idade. De acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos no Brasil cresceu 57,4% em 12 anos. Estima- se ainda que, em 2030, o país passe a ocupar a quinta posição no ranking mundial de população mais idosa.
Com a idade avançada, surgem desafios que podem afetar significativamente a autonomia dos idosos. Um dos momentos mais críticos é quando ocorre um evento agudo, como por exemplo, um Acidente Vascular Cerebral (AVC), uma queda ou o acometimento por uma doença grave. Estes episódios podem abalar profundamente a independência conquistada ao longo dos anos, exigindo uma abordagem cuidadosa e dedicada para reconquistar a autonomia.
Um evento agudo pode ser devastador para qualquer pessoa, mas, para os idosos, os efeitos podem ser ainda mais intensos. A recuperação muitas vezes é mais lenta devido a fragilidade física e comorbidades comuns na terceira idade. Além dos desafios físicos, há também o impacto emocional e psicológico deste público. Sentimentos de medo, ansiedade e depressão são frequentes, tornando a recuperação ainda mais complexa.
“Pacientes idosos, muitas vezes, têm doenças pré-existentes, como hipertensão, diabetes, um passado de sedentarismo, colesterol alto. E quando esses indivíduos sofrem um evento agudo, comumente não conseguem uma recuperação plena e acabam perdendo autonomia para a realização de atividades básicas de vida diária”, ressaltou Dr. Silas Lucena (CRM – PE 30132), coordenador médico da Clínica Florence, Unidade Recife.
De acordo com Dr. Silas, para que o paciente 60 + consiga reconquistar a independência após um evento agudo, é preciso fazer algumas intervenções clínicas, tratando em primeira instância o causador do evento agudo, seguindo para o controle das doenças de base.
“É preciso fazer o controle da doença que levou aquela internação, aquele acometimento agudo, mas sem esquecer também de estabilizar as patologias pré-existentes e iniciando o processo de reabilitação”, completou.
A reabilitação após um evento agudo deve ser holística e envolver uma equipe multidisciplinar. Fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos são alguns dos profissionais que desempenham papéis importantes nessa jornada.
A fisioterapia, por exemplo, ajuda na recuperação da mobilidade e na força muscular, enquanto a terapia ocupacional trabalha na adaptação às atividades diárias.
“A reabilitação física é muitas vezes focada nas atividades de rotina diária, com a fisioterapia e terapia ocupacional, elas irão auxiliar na recuperação física e motora, além de melhorar o desempenho cognitivo. Esse suporte vai fazer com que o paciente reaprenda determinadas funcionalidades, ajudando no processo de autocuidado, que por sua vez irá impedir a progressão e deterioração de condições de síndromes demenciais”, afirmou o médico, reforçando que, além do cuidado físico, o restabelecimento da autonomia, com retirada de dispositivos invasivos, como sondas, irão ajudar a manter o intelecto e a cognição preservada.
A intervenção nutricional também tem papel relevante na busca pela autonomia dos pacientes idosos, pois garante uma alimentação adequada para suportar a recuperação.
“O acompanhamento da aceitação da dieta é de extrema importância, sobretudo na ingestão proteica que, em conjunto com a fisioterapia, irá promover recuperação do tecido muscular e consequentemente melhoria da funcionalidade e qualidade de vida do paciente”, destacou Abigail Rocha, Líder de Nutrição na Clínica Florence, Unidade Salvador.
O suporte psicológico também faz parte do processo de reabilitação. Ele é essencial para que o paciente possa lidar com os aspectos emocionais da recuperação. A realização de atividades lúdicas, terapias integrativas auxiliam na manutenção da saúde mental.
“O contato social reduz a sensação de isolamento e solidão, que são comuns na terceira idade, e promove uma melhor qualidade de vida”, salientou Dr. Silas.
Os Hospitais de Transição são excelentes aliados na recuperação de pacientes idosos acometidos por um evento agudo. Estas unidades estão equipadas para fornecer reabilitação intensiva e personalizada, ajudando os idosos a recuperar a força e a mobilidade.
“Além de tratar a doença aguda, o hospital de transição busca trazer capacitações para que o próprio indivíduo reaprenda a cuidar de si. Na Clínica Florence nós também capacitamos os cuidadores e/ou familiar daquele paciente, para que o cuidado não seja interrompido na fase de retorno ao domicílio”, afirmou Dr. Silas.
O médico ainda ressaltou o principal objetivo dos Hospitais de Transição durante as principais etapas do cuidado ao paciente idosos em reabilitação após um evento agudo.
“Nosso papel enquanto Hospital de Transição é garantir que o tratamento iniciado no hospital geral para controle da doença aguda não cesse e faça com que o paciente fique restrito, vindo a apresentar piora clínica pelo imobilismo, que no paciente idoso é fator para outras doenças, como delirium, progressão de síndromes demenciais cognitivas. Então, o Hospital de Transição irá auxiliar na recuperação plena ou na readequação dos cuidados, mas para proporcionar autonomia do nosso paciente”, ponderou o coordenador médico.
A adaptação do ambiente doméstico é uma etapa crucial para promover a autonomia do idoso após um evento agudo. Medidas como a instalação de barras de apoio, rampas, a remoção de tapetes soltos e a adequação da altura dos móveis podem prevenir novas quedas e facilitar a mobilidade. Um ambiente seguro e acessível incentiva o idoso a realizar atividades diárias de forma independente, promovendo a autoestima e a confiança.
“Na Clínica Florence, antes da alta hospitalar, nosso Time de Reabilitação orienta a família acerca das modificações necessárias para que o paciente possa retornar ao domicílio em segurança, evitando uma possível queda. E toda essa adaptação é realizada de forma individualizada, com a avaliação da própria residência daquele paciente, seja por meio de foto ou vídeo”, concluiu Dr. Silas.
Reconquistar a autonomia após um evento agudo na terceira idade é um desafio complexo, mas não impossível. Com uma abordagem multidisciplinar, o apoio da família, adaptações no ambiente e incentivo à atividade física e mental, os idosos podem recuperar a independência e melhorar significativamente sua qualidade de vida.
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