Pessoas com condições médicas agudas, que sofreram um novo evento, podem se beneficiar com uma abordagem especial da Reabilitação Adequação de Cuidados.
Na área da saúde, a atuação da equipe médica e assistencial é decisiva para a qualidade de vida do paciente, em especial, após condições médicas graves. Neste cenário, pessoas que foram acometidas, por exemplo, por AVC grave e traumas cranioencefálicos, podem ser beneficiados por uma abordagem especial da Reabilitação, a Adequação de Cuidados.
A Adequação de Cuidados tem como objetivo a reabilitação de pacientes para a redução da complexidade do cuidado, adaptação à nova situação de saúde e definição de plano de cuidados para o momento de retorno do paciente ao domicílio. Esta abordagem ajuda a preparar e planejar junto à família cenários futuros de evolução e capacitando os familiares para a continuidade dos cuidados após a alta do Hospital de Transição.
A abordagem é indicada para a pacientes com evento agudo ou exacerbação de doença crônica com baixa possiblidade de recuperação da capacidade de realização das atividades de vida diária de maneira independente. Nestes pacientes, a expectativa de ganho de independência é baixa, por limitações funcionais prévias ou pela própria gravidade do insulto agudo recente, porém existe um aumento da demanda e da complexidade do cuidado. Nessas situações, o Hospital de Transição pode funcionar como uma ponte entre o hospital e o domicílio, facilitando essa passagem.
Para Dr. João Gabriel Ramos, intensivista e Diretor Médico da Clínica Florence, esta abordagem da reabilitação é desafiadora para a equipe médica e interdisciplinar, e ao mesmo tempo gratificante, pois os resultados positivos impressionam:
“O paciente em Reabilitação Adequação de Cuidados está numa área de incerteza. Apesar de se tratar de uma situação em que a probabilidade de recuperação total da independência funcional é reduzida, existe a possibilidade de ganhos intermediários que podem melhorar bastante a qualidade de vida do paciente, aumentar a segurança no retorno para domicílio e facilitar os cuidados prestados pela família”, explica o especialista.
“Outro entendimento para o paciente indicado para Adequação de Cuidados é que a equipe pode compreender que ele tem uma incapacidade permanente. Nesse caso, será realizado um plano de cuidados muito mais voltado para a adaptação à nova situação, apoiando o paciente e familiares a conviverem com essa nova realidade e compartilhando as decisões referentes a um plano de cuidados futuro”, esclarece Dr. João Gabriel.
Conheça 4 fatos importantes sobre a Reabilitação Adequação de Cuidados.
Funcionalidade Prévia
Com base em análises de métricas em escalas, um paciente pode ser indicado pelo médico assistente para a internação em Hospital de Transição para a realização de Reabilitação Adequação de Cuidados, pela possibilidade de ter impactos positivos na saúde com os programas de terapias. Um ponto importante para ser considerado nesta avaliação é a funcionalidade prévia do paciente, antes do evento agudo, que pode ter relação direta com a idade do paciente, mas também com as condições de saúde prévia. A funcionalidade do paciente pode ser medida através da capacidade da pessoa de exercer suas atividades de vida diária de maneira independente (por exemplo: se alimentar, caminhar, tomar banho, vestir suas roupas etc).
Em geral, uma pessoa com idade mais avançada, com doenças crônicas e internações anteriores, já terá perdas prévias de funcionalidade e uma dependência maior para as atividades da vida diária, eventualmente precisando de um cuidador. Esse perfil de paciente terá uma menor reserva funcional e, consequentemente, menor capacidade de recuperação de independência após a ocorrência de um evento agudo, especialmente se for um evento grave. A indicação para Reabilitação Adequação de Cuidados considerará a possibilidade de uma reabilitação intermediária, possibilitando redução da complexidade dos cuidados e mais autonomia. Isso pode acontecer, por exemplo, através de uma melhoria na capacidade de sustentação do tronco, permitindo que o paciente passe de uma situação de pessoa completamente acamada para alguém capaz de sentar ou andar com apoio.
Uso de Dispositivos Auxiliares
A capacitação do paciente na utilização de dispositivos auxiliares pode facilitar o ganho de bem-estar e independência. Na abordagem desses pacientes, faz-se necessária a avaliação técnica de possíveis ganhos, com a indicação adequada de dispositivos auxiliares.
Dessa forma, as sessões de terapias de reabilitação, o paciente candidato a Reabilitação Adequação de Cuidados treina, com os profissionais do time de Reabilitação, a utilização de dispositivos que auxiliam a rotina diária como, por exemplo, cadeira de rodas, andador ou órteses.
Não se limitando ao número de dispositivos, mas em conciliar a função e uso, estas sessões buscam uma maior segurança do paciente para atividades da vida diária, como andar, comer ou a realização de cuidados pessoais, vislumbrando o dia-a-dia no retorno ao domicílio, após a alta do Hospital de Transição.
Redução da complexidade
Há também pacientes que passam a necessitar de dispositivos médicos após o evento agudo no hospital geral, como, por exemplo, a utilização de uma sonda nasoenteral para alimentação artificial ou a utilização de uma traqueostomia para facilitar o manejo respiratório. Nestas situações, a equipe avaliará e tentará efetuar a reabilitação do paciente com a tentativa de reduzir a complexidade do dispositivo utilizado, aumentando a segurança e facilitando o cuidado em domicílio, ou planejando a retirada segura desses dispositivos, quando possível.
Neste cenário, a equipe interdisciplinar acompanha a evolução do paciente, durante a internação, através da avaliação de diferentes categorias profissionais, se utilizando de escalas objetivas e validadas de reabilitação, considerando sempre o que tem sentido e significado para o paciente, e respeitando suas preferências, valores e hábitos.
“Para alguns pacientes pode ser mais significativo a tentativa de determinado ganho funcional (por exemplo, a capacidade de andar), enquanto que para outros, outros ganhos funcionais podem ser mais importantes (por exemplo, capacidade de comer por boca). A Adequação de Cuidados vai muito além da mudança ou retirada de dispositivos, a redução da complexidade é pensar também na dignidade da pessoa e o que faz sentido para ela em sua rotina. Dessa forma, para além da indicação técnica, o que é importante para o paciente e sua família sempre fará parte da construção do plano de cuidados durante a internação no Hospital de Transição”, complementa o diretor médico.
Ainda podemos compreender a redução da complexidade do cuidado para pacientes que, após o evento agudo, precisavam do suporte integral de um cuidador ou familiar e passam a realizar algumas atividades da vida diária sozinhas com os benefícios da Reabilitação Adequação de Cuidados. Nestes casos, entende-se a redução de complexidade também quando os ganhos efetivos permitem mais autonomia para tarefas, realizando as atividades com dispositivos ou sem dispositivos, com o aumento do tônus muscular e das funções motoras.
Capacitação Familiar
Durante a internação, além do foco na redução da complexidade do cuidado (retirada de traqueostomia, cuidados a lesões cutâneas, desmame de oxigênio, retirada de sonda enteral, desfralde, ganho de tônus muscular, sustentação de tronco etc.), há grande foco na capacitação da família e cuidadores, preparando-os para oferecer a melhor assistência ao paciente em seu retorno para o lar.
Neste cenário, a Clínica Florence realiza a capacitação de cuidadores e familiares para que desenvolvam as competências necessárias para a continuidade de cuidados do paciente, buscando proporcionar uma transição de cuidados segura no pós alta hospitalar.
Realizada pela equipe Assistencial da Clínica Florence, a capacitação inclui, por exemplo, o aprendizado para realizar as transferências para cama ou cadeira, utilização de sondas, alimentação e cuidados com a pele, entre outros. Após a capacitação, o cuidador ou familiar recebe um certificado que atesta a realização do treinamento conforme necessidades indicadas pela equipe médica e interdisciplinar.
Além do treinamento, os especialistas em Terapia Ocupacional da Clínica Florence realizam, de forma individual e planejada, a avaliação do domicílio para o pós alta, orientando a família para as possíveis mudanças na casa do paciente em Reabilitação Adequação de Cuidados, para que, de forma segura e com menor chance de reinternação, o paciente que teve comprometimento da independência e de autonomia para atividades básicas da vida diária possa retornar ao domicílio.