Caracterizada pela dificuldade em engolir alimentos, líquidos e saliva, a disfagia pode causar diversas complicações, sendo crianças e idosos os públicos mais vulneráveis. De acordo com a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), chega a afetar de 16% a 22% da população acima dos 50 anos.
Por conta da variedade de causas, essa condição é classificada em dois grupos: neurogênico e mecânico. “O primeiro aponta alterações nos nervos e controle muscular da deglutição, o que compromete a coordenação do ato de engolir. Já o segundo está associado a obstruções físicas ou alterações estruturais que dificultam a passagem do bolo alimentar. Em geral, a disfagia neurogênica apresenta maior variabilidade de sintomas, enquanto a mecânica é marcada pela sensação de obstrução localizada”, explica a fonoaudióloga da Clínica Florence Unidade Recife, Tatiana Macedo.
O problema costuma ter relação tanto com doenças neurológicas, a exemplo de acidente vascular cerebral (AVC), Parkinson, esclerose lateral amiotrófica (ELA), Alzheimer e traumatismo cranioencefálico, como também tumores ou alterações no trato digestivo, refluxo gastroesofágico severo, doenças pulmonares obstrutivas e sequelas de cirurgias nas regiões da cabeça e pescoço.
Conforme a profissional, a pneumonia aspirativa é um dos principais riscos ligados ao engasgo e dificuldade de deglutição. “A aspiração de saliva, alimentos ou líquidos em pequenas quantidades para as vias respiratórias, mas de forma contínua, ainda pode levar a infecções pulmonares e comprometimento respiratório. Além disso, há risco de desnutrição e desidratação devido à ingestão insuficiente de nutrientes e líquidos”, ressalta.
Sinais de alerta
Os episódios recorrentes de engasgo demandam atenção, independentemente da consistência e tamanho do alimento consumido. Tatiana Macedo alerta que tosse frequente com a saliva ou durante a alimentação, sensação de alimento parado na garganta, mudanças na voz após a deglutição (voz “molhada”), perda de peso sem motivo aparente e demora excessiva para comer são alguns dos sinais que indicam a necessidade de avaliação e acompanhamento fonoaudiológico.
A condição ainda engloba os quadros de presbifagia, que são modificações na função de deglutição decorrentes do envelhecimento. “Além do aumento do tempo de resposta neural, as alterações estruturais que fazem parte desse processo provocam a lentificação do mecanismo de deglutição. Intervenções simples, como mudanças na postura e ritmo de alimentação, ajudam a adequar novamente a função”, diz.
Conforme a fonoaudióloga, a disfagia pode ser totalmente revertida, especialmente nos casos leves e moderados de AVC, inflamações ou lesões transitórias. No entanto, em pessoas com sequelas graves ou doenças progressivas, o foco do tratamento é minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Isso inclui a adoção de uma dieta mista, que acontece por via oral ou via alternativa (sonda ou nutrição intravenosa).
Reabilitação multiprofissional
Fora a análise detalhada da deglutição por meio de avaliações clínicas e exames de imagem como a videofluoroscopia, em conjunto com outras áreas da saúde, a atuação da fonoaudiologia possibilita tanto a descoberta da condição quanto a definição de condutas que vão garantir uma alimentação segura e eficiente aos pacientes.
“Com base no diagnóstico são aplicadas estratégias terapêuticas que incluem desde exercícios para fortalecimento muscular e adaptação da consistência dos alimentos até reeducação da postura e uso de manobras compensatórias para facilitar a deglutição e controlar o volume de cada ingestão”, diz Tatiana Macedo, fonoaudióloga da Clínica Florence Unidade Recife.