Voltar

Os impactos da Reabilitação Pós UTI

Pós UTI
Reabilitação
Reabilitação Intensiva

Em artigo, Dr. João Gabriel Ramos, Diretor Médico da Clínica Florence, discute a abordagem dos cuidados interdisciplinares na Reabilitação de pacientes Pós UTI.

Sessão de Reabilitação Intensiva Pós UTI na Clínica Florence
Segundo artigo publicado na New England Journal of Medicine, a Reabilitação de pacientes com impactos da Síndrome Pós UTI é essencial para o tratamento de sequelas físicas, psicológicas e cognitivas.

Artigo por Dr. João Gabriel Ramos – Desde a sua inauguração, a Clínica Florence cuida de pacientes que passaram por estadia em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), reforçando esse papel após a pandemia da COVID-19, e se estruturando cada vez mais para esse cuidado. 

A literatura científica reforça essa tendência: nesses últimos dois anos, muitas publicações relevantes têm dado ênfase ao tema da síndrome Pós UTI (Post-intensive Care Syndrome – PICS), como o guideline mais recente da Surviving Sepsis Campaign (2021), que já trazia a necessidade de prevenção, diagnóstico e tratamento das sequelas físicas, psicológicas e cognitivas adquiridas na UTI. 

Ampliando esse conhecimento, em 2023, duas revisões importantes ajudaram a solidificar alguns conceitos. Em março, foi publicado na New England Journal of Medicine a revisão “Outcomes after Criticall illness” e, em junho, foi publicada uma revisão narrativa na CHEST Critical Care sobre o mesmo tema.

Esse interesse deriva da percepção cada vez mais clara do impacto das sequelas Pós UTI na vida dos pacientes, seus familiares, sistema de saúde e sociedade como um todo. Como exemplos, um a cada três pacientes que saem de alta da UTI após um quadro de sepse (infecção grave com alterações das funções orgânicas) reinternam dentro do período de 90 dias. Adicionalmente, pacientes críticos de longa permanência têm mortalidade de até 60% no período de 12 meses após a alta da UTI e, apesar de corresponderem a cerca de 10-15% dos pacientes internados, são responsáveis pela utilização de até 1/3 das diárias de UTI.   

Diversas medidas podem ser implementadas durante o internamento hospitalar do paciente na tentativa de reduzir o risco de PICS, mas ambos os artigos reforçam a importância de se entender a estadia na UTI como parte de um continuum na jornada do paciente e a importância em se identificar e manejar as sequelas relacionadas a PICS.

O cuidado do paciente com sequelas Pós UTI abrange quatro áreas prioritárias: 1) a identificação e manejo das sequelas físicas, cognitivas e psicológicas; 2) o manejo adequado das comorbidades, assim como riscos clínicos adquiridos durante a internação na UTI, visando reduzir complicações e reinternações hospitalares; 3) revisão e ajuste dos medicamentos em uso, entendendo a nova condição do paciente e; 4) uso de ferramentas de comunicação e decisão compartilhada para alinhamento de prognóstico e discussão de objetivos do cuidado. 

Devido à complexidade dessas intervenções, sugere-se que essas sequelas sejam manejadas de maneira interdisciplinar e que, em cerca de 25% dos pacientes, unidades de cuidados pós agudos como a Clínica Florence podem exercer um papel importante nessa jornada. 

Dr. João Gabriel Ramos é diretor médico da Clínica Florence, professor adjunto de medicina da Universidade Federal da Bahia, membro da diretoria executiva da Sociedade de Terapia Intensiva da Bahia, do Comitê de Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos e do Comitê de Cuidados Pós UTI da Associação de Medicina Intensiva Brasileira.