A passagem pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) costuma ser desafiadora para pacientes e familiares. Mas o período da alta para o setor ambulatorial e para casa também requer alguns cuidados, sobretudo com a pele. A imobilidade prolongada, o uso de dispositivos médicos, além da exposição a diferentes fatores de estresse podem comprometer a integridade do órgão e aumentar os riscos de complicações dermatológicas.
Um dos principais desafios enfrentados pelos pacientes no Pós UTI é o desenvolvimento de lesões por pressão, popularmente conhecidas como escaras. Segundo o artigo publicado pela Revista de Enfermagem UFPE On Line, no Brasil, a incidência de lesão por pressão em pacientes hospitalizados chega a 16,9%. Entretanto, esse percentual pode ultrapassar os 40% em UTIs, devido ao grau de complexidade dos pacientes.
De acordo com Flávia Ferreira, gerente de práticas assistenciais da Clínica Florence, Unidade Salvador, os sinais mais comuns de problemas de pele em pacientes Pós UTI são alteração na perfusão tecidual (passagem de líquido através do sistema circulatório ou linfático para o tecido), desidratação e mudança da temperatura.
Ela explica que a complexidade do quadro clínico dos pacientes que passaram pela UTI pode ocasionar desordem no organismo e resultar em lesões na pele. “Durante esse período, a prioridade fisiológica são os órgãos nobres. Essa prioridade pode refletir em menor suprimento de sangue e nutrientes para a pele, incorrendo em lesões”, relata a estomaterapeuta, completando que tais fatores associados a mudança na sensibilidade e maior restrição ao leito também contribuem para a ocorrência de lesão.
Cuidados com a pele
Para evitar o surgimento de lesões, é importante tomar alguns cuidados com a pele do paciente Pós UTI. Flávia alerta que a utilização de superfícies de suporte, como colchão pneumático, mudança de posição e hidratação da pele são fundamentais para não ocasionar escaras. A enfermeira ainda ressalta que em alguns perfis de pacientes existe a necessidade de realização de coberturas que ajudam a minimizar os efeitos da depressão na pele e protegê-la de lesões.
“O padrão ouro para a prevenção de lesão é a mudança de posição, pois evita o comprometimento da circulação sanguínea, que acaba refletindo no fluxo de nutrientes e oxigênio para a pele. Essa condição por tempo prolongado faz com que haja a isquemia do tecido e consequentemente ocorrência de danos locais que podem resultar em lesão”, detalhou Ferreira.
Alguns produtos são aliados no tratamento de lesões na pele. Água e sabonete, preferencialmente aqueles com pH ligeiramente ácido, auxiliam na limpeza das feridas. Também é recomendado o uso de hidratantes a base de ácidos graxos essenciais (AGE), ureia, dexpanthenol ou do tipo creme barreira. É importante evitar o uso de hidratantes perfumados, pois tendem a ter menos eficácia na hidratação e podem causar irritação na pele.
A importância da alimentação
A nutrição do paciente é outro fator relevante para a manutenção dos cuidados com a pele, seja na prevenção ou no tratamento das lesões. De acordo com o artigo “Terapia nutricional na lesão por pressão: revisão sistemática”, divulgado na plataforma Scielo, existe uma associação entre desnutrição, desenvolvimento de lesão por pressão e retardo na cicatrização. A pesquisa revela que “baixos valores de Índice de Massa Corporal estão associados à redução da gordura corporal e, consequentemente, à diminuição da proteção contra a pressão em áreas ósseas proeminentes”.
Em 2020, a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral deu início a campanha “Diga não à lesão por pressão”. A iniciativa estimula a padronização dos cuidados multiprofissionais de pacientes graves e reforça sobre a importância da nutrição nos cuidados com a pele. O documento traz informações sobre a necessidade de ingestão de macronutrientes, como carboidratos e proteínas, assim como os alimentos que integram a categoria de micronutrientes, dentre eles vitaminas e minerais, para estimular o processo de cicatrização e manutenção da integridade da pele.
Segundo Hadassa Nascimento, nutricionista da Clínica Florence, Unidade Recife, o hospital de transição adota a conduta nutricional baseada em uma alimentação variada e adequada às necessidades de cada paciente. “Essa conduta auxilia na geração de energia, síntese de colágeno, melhoria na resposta imunológica, além da redução na produção de radicais livres. Tais fatores irão contribuir positivamente e potencialmente na cicatrização de feridas”, finalizou.
Na Clínica Florence, existem protocolos de cuidados com a pele dos pacientes, não apenas com foco naqueles que vieram diretamente da UTI, mas todos que estão em regime de internação. Este protocolo consiste, principalmente, na utilização de colchão pneumático, mudança de decúbito sistemática, alimentação balanceada e hidratação da pele.
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