Conhecida como a especialidade da dor e da Reabilitação, a Medicina Física e Reabilitação ou Fisiatria é uma área que se dedica, em especial, aos pacientes que possuem perdas, incapacidades ou deficiências físicas, motoras ou neurológicas. Em sua atuação, o principal objetivo é a melhoria da qualidade de vida, buscando promover a independência funcional e a reintegração social do paciente.
Com o intuito de trazer um maior entendimento sobre esta especialidade, entrevistamos Dra. Letícia Gomes de Barros (CRM 22571 – PE) sobre os principais aspectos da fisiatria, incluindo suas abordagens, atuação e benefícios na reabilitação dos pacientes.
Com residência médica em Medicina Física e Reabilitação pela Universidade de São Paulo (USP), com título de especialista pela Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR/AMB), Dra. Letícia já atuou como médica assistente em grandes centros de referência em reabilitação como na Rede Lucy Montoro, Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (IMREA) e na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). Nos últimos 4 anos atuou como vice-presidente da ABMFR – Regional Nordeste e atualmente integra o time médico da Clínica Florence – Unidade Recife.
A fisiatria é uma especialidade bastante ampla, com olhar holístico, cujo cerne tem como principal objetivo o resgate da funcionalidade e autonomia do paciente. Com uma abordagem biopsicossocial e visão integral no funcionamento motor e neuro cognitivo, é uma área que pode atuar e beneficiar todas as faixas etárias, em paralelo a outros especialistas, desde recém-nascidos até os idosos.
Comparo o processo de reabilitação à execução de uma música por uma orquestra, tocada de forma síncrona e complementar. Cada músico com o seu instrumento, tendo como resultado uma melodia harmônica.
O papel do médico fisiatra na reabilitação dos pacientes é fundamental, uma vez que o fisiatra é o médico da funcionalidade. Ele é um facilitador no processo, tanto na abordagem preventiva, como na Reabilitação funcional, na Adequação de cuidados ou na reabilitação de conforto, para pacientes em Cuidados Paliativos.
Quando um paciente tem uma doença ou lesão que gere uma incapacidade temporária ou permanente, o fisiatra pode identificar e diagnosticar de forma adequada a extensão dessa lesão, visando diminuir seu impacto e minimizar incapacidades, realizando prognóstico e planejamento de como seguir na Transição de Cuidados e em todo o processo reabilitacional, preparando também a família para o contexto domiciliar.
Em pacientes críticos, tão importante quanto fazer o diagnóstico de uma doença ou de um evento agudo, como o AVC ou Sepse, que podem ter como desfecho uma série de condições incapacitantes, é diagnosticar as potencialidades funcionais preservadas do paciente para que seja possível utilizá-las no processo de Reabilitação Funcional ou colaborar na redução da complexidade e Adequação de Cuidados.
Com objetivos bem definidos em toda a jornada de recuperação do paciente, desde o Pós UTI, a indicação de Reabilitação em Hospital de Transição ou até a realização de terapias de forma ambulatorial, em consultórios, o fisiatra tem a capacidade ampla na compreensão e atuação junto à equipe interdisciplinar.
Isto possibilita análises dos impactos destas doenças ou lesões na curva do paciente em curto, médio e longo prazo. O fisiatra, em conjunto com toda a equipe de reabilitação e em reuniões periódicas, identifica quais as terapias adequadas ao momento, quais as abordagens necessárias para prevenção de possíveis complicações no futuro, indica e prescreve de tecnologia assistiva e meios auxiliares de locomoção além de discutir como potencializar os efeitos das intervenções indicadas. Sempre com o foco de possibilitar o resgate da funcionalidade e mais qualidade de vida ao paciente.
Nos pacientes adultos indicados para Reabilitação Intensiva, a grande maioria pode se beneficiar da abordagem do fisiatra. Pacientes Pós AVC, Pós UTI, Pós Fratura de Quadril, além de traumatismo cranioencefálico e raquimedular (Lesão Medular), politraumatizados, com polineuropatias, amputações, pós-cirurgias ortopédicas.
Também podem ser beneficiados os pacientes com dor, como a fibromialgia, visto que a dor pode interferir seriamente no processo de reabilitação, na realização das terapias e no bem-estar. Importante entender que, a depender do caso do paciente, existem situações que demandam as intervenções e benefícios da fisiatria ao longo de toda a vida, possibilitando adaptações e adequações de cuidado em algum grau a cada etapa.
A fisiatria é uma especialidade clínica e intervencionista. Os procedimentos realizados pelo fisiatra buscam minimizar o impacto de qualquer condição clínica que possa interferir no processo de reabilitação como por exemplo: bloqueios anestésicos e/ou com toxina botulínica para quadro de dor no ombro para tratamento da espasticidade ou hipertonia, comumente presentes no paciente pós-AVC, e assim como em outras condições neurológicas. Há também a desativação/infiltração de pontos-gatilhos para tratamentos da dor miofascial, infiltração com toxina botulínica para diminuir a salivação excessiva (conhecida também como sialorréia), seja no paciente em reabilitação funcional, adequação de cuidados e/ou paliação.
Tais intervenções, quando bem indicadas e realizadas no momento certo, facilitam a execução das terapias de reabilitação e o trabalho síncrono da equipe multidisciplinar, permitindo assim o alcance de um desfecho funcional mais favorável para o paciente.