Condição que afeta o sistema nervoso central, a lesão medular resulta na perda de função sensorial, motora e autonômica abaixo do nível da lesão. A mudança na rotina, na autonomia e independência da pessoa lesionada pode ser drástica, requerendo atenção, cuidados e o tratamento adequado para evitar agravamento, morbidades e até mortalidade, a depender do quadro clínico.
Segundo dados da American Spinal Injury Association (ASIA), a lesão ocorre quando há danos à medula espinhal. São causas da lesão medular os impactos diretos na coluna vertebral, como acidentes automobilísticos, quedas, ou fatores não traumáticos que causem compressão na medula espinhal, como tumores e mielopatias. O evento é considerado uma emergência médica e demanda tratamento com reabilitação com equipe interdisciplinar no Pós UTI para reduzir complicações e pioras a longo prazo, possibilitando mais qualidade de vida ao paciente.
“Para compreender as perdas funcionais e as complicações pós lesão medular é necessário entender um pouco a anatomia da coluna. Englobando as regiões cervical, tórax, lombar, sacro e cóccix, a coluna vertebral possui 33 vértebras, unidas por ligamentos e um disco cartilaginoso entre as vértebras. Por entre o interior, há um canal onde passa a medula espinhal, que é composta por fibras nervosas responsáveis por transmitir sinais entre o cérebro e o restante do corpo”, explica Dra. Letícia Gomes de Barros, (CRM-PE 22571) médica fisiatra que integra o corpo médico na Unidade Recife da Clínica Florence.
A gravidade da lesão medular varia com a localização (área na coluna e suas vértebras) e da extensão da lesão (compressão completa ou incompleta da medula). Segundo a fisiatra, estudos científicos apontam que, no pós alta hospitalar, “os pacientes com este diagnóstico requerem cuidado especializado um programa de reabilitação, e a depender do local e extensão da lesão, pode ser indicada a realização de reabilitação ambulatorial ou internado, visto que a lesão da medula espinhal pode resultar em várias perdas e complicações severas, temporárias ou definitiva” esclarece a especialista.
Entenda as complicações da lesão medular:
Tetraplegia: ocorre quando a região cervical é afetada, até a vértebra T1. Impacta os membros inferiores e superiores, levando a uma perda significativa da função motora e sensorial e uma maior dependência de cuidadores, bem como complexidade de cuidado. Segundo o site Drauzio Varella, as lesões na cervical são as mais frequentes e mais devastadoras.
Paraplegia: ocorre nas lesões abaixo da vértebra T1, comprometendo o tronco e os movimentos dos membros inferiores. Dependendo do nível e da extensão do evento agudo, pode impactar seriamente a realização de atividades básicas para a pessoa lesionada sem ajuda de um cuidador.
Dificuldades respiratórias: quando lesionada a região mais alta da coluna, na cervical, afetar os músculos respiratórios (diafragma), levando a dificuldades na respiração e até a dependência de ventilação mecânica. Segundo a Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação, uma das maiores causas de mortalidade e morbidade em pacientes tetraplégicos pós lesão medular são devido as complicações respiratórias, que podem acontecer principalmente nos primeiros dias, meses a 2 anos após a lesão.
“O comprometimento da força muscular respiratória nos pacientes requer um plano de cuidados personalizado de reabilitação pós lesão medular que inclua, entre as abordagens terapêuticas, a fisioterapia respiratória”, esclarece Dra. Letícia Gomes de Barros.
Problemas cardiovasculares: com a mobilidade reduzida, o paciente pós lesão medular pode ter o risco de desenvolver desde lesões por pressão, trombose venosa profunda e doenças cardiovasculares crônicas.
Perda de sensibilidade: está condicionada ao tipo e ao nível da lesão, pode afetar significativamente a capacidade de sentir o toque, a temperatura e a dor.
Rigidez muscular: a espasticidade, ou seja, o aumento involuntário da rigidez muscular, que causa desconforto e dificulta a mobilidade, pode favorecer o estabelecimento de deformidades musculoesqueléticas tanto em membros superiores como em membros inferiores.
Disfunção dos esfíncteres e sexual: entre as complicações, a falta de controle da bexiga e do intestino favorecendo uma série de complicações desde obstipação intestinal, infecção do trato urinário de repetição, cálculos renais/vesicais até insuficiência renal, chegando a ser necessária a realização da hemodiálise devido a não eliminação adequada da urina. Além disso, a saúde sexual e reprodutiva também pode ficar comprometida pela disfunção erétil, anorgasmia (inibição recorrente ou persistente do orgasmo) e infertilidade.
Saúde mental: além das implicações físicas, os pós lesão medular pode ocasionar danos à saúde mental da pessoa lesionada. O acompanhamento com profissionais de psicologia ajuda neste momento significativo, ajudando a identificar e tratar depressão, ansiedade e estresse relacionados ao enfrentamento e adaptação do momento de vida do paciente.
“É importante entender que durante o programa de reabilitação é possível analisar a extensão das perdas funcionais, as possíveis sequelas permanentes e o prognóstico. Elaborando o plano de cuidados personalizado, que pode chegar a até 15h semanais de terapias, é possível auxiliar o paciente a reduzir as chances destas complicações e possibilitar autonomia, independência e qualidade de vida” pontua Dra. Letícia sobre a Reabilitação na Clínica Florence.
A especialista explica uma das principais complicações após o evento grave: “o paciente com diagnóstico de lesão medular (essencialmente em lesões acima da vértebra T6) pode apresentar disreflexia do sistema nervoso autonômico, que é uma reação exacerbada do sistema nervoso autonômico. A disreflexia pode levar a emergência hipertensiva (a pressão arterial elevar subitamente), por exemplo. Se não for rapidamente identificada e tratada, pode resultar em um infarto cardíaco, Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou crises convulsivas, por exemplo”, explica.
Para a especialista, a capacitação familiar é fundamental para evitar agravos nas sequelas e reduzir complicações durante a reabilitação pós lesão medular, a fim de treinar cuidadores e entes queridos para os cuidados adequados com a pessoa lesionada.
Na Clínica Florence, entre os diferenciais de cuidado, há grande foco na capacitação para preparar, paciente e entes queridos, para o retorno ao domicílio. Neste cenário, nas Unidades Salvador e Recife, a Clínica Florence realiza a capacitação de cuidadores e familiares para que desenvolvam o manejo adequado para a continuidade de cuidados do paciente, buscando proporcionar uma transição de cuidados segura no pós alta hospitalar.
Realizada pela equipe assistencial da Clínica Florence, a capacitação inclui, por exemplo, o aprendizado para realizar as transferências para cama ou cadeira, utilização de sondas, alimentação e cuidados com a pele entre outros. Após a capacitação, o cuidador ou familiar recebe um certificado que atesta a realização do treinamento conforme necessidades indicadas pela equipe médica e interdisciplinar.
A reabilitação intensiva desempenha um papel fundamental para o tratamento do paciente de lesão medular. De acordo o Ministério da Saúde, um programa de reabilitação multiprofissional bem estruturado e precoce pode melhorar significativamente a qualidade de vida desses pacientes, incluindo terapias como fisioterapia motora, neurofuncional e respiratória, terapia ocupacional, psicologia e fonoaudiologia, por exemplo.
Para atender as necessidades das abordagens das diversas especialidades que atuam no programa, as Unidades da Clínica Florence contam com Sala de Reabilitação. A estrutura foi planejada para oferecer o tratamento de forma intensiva e interdisciplinar, como sessões com fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo, oficinas de pintura e outras dinâmicas terapêuticas, possibilitando muito estímulo motor, cognitivo e sensorial.
Parte da estrutura na Unidade Recife e na Unidade Salvador, a Sala de Reabilitação é equipada com prancha ortostática, esteira com suporte de carga parcial, treino de escada, rampa, marcha em barras paralelas, jogos de lógica e raciocínio, equipamentos para treino de equilíbrio, força e simulação de situações da vida cotidiana (abrir portas, torneiras, cadeados etc.).
A Reabilitação Intensiva na Clínica Florence pode colaborar com a recuperação de funcionalidades, adequar o cuidado, treinar a família e cuidadores de pessoas pós lesão medular, buscando, desta forma, colaborar com a independência e a reintegração da pessoa lesionada na sociedade.